Nas duas
primeiras dicas literárias, apresentei a vocês obras de autores
latino-americanos, revelando de certa forma minha preferência especial pela
Literatura da América Latina. Contudo, considero interessante explorar outras vertentes e períodos
literários. Enquanto pensava sobre o tema da coluna, lembrei de um filme que
assisti, Meia-Noite em Paris, do
genial Woody Allen. Na trama, um escritor viaja até Paris com a futura esposa,
e procura na cidade uma inspiração para o romance que está escrevendo. Como
todo bom saudosista, era fascinado pela efervescência cultural da Paris dos
anos de 1920. Certa noite, enquanto passeava
pelas tortuosas ruelas parisienses, é transportado de forma mágica para os anos
20, onde encontra seus artistas preferidos, entre eles, o autor que será
assunto de hoje, Ernest Hemingway.
Hemingway é um
dos escritores da chamada “geração perdida” da década de 20, grupo de artistas
sem pátria definida que viveram experiências intensas em meio ao clima boêmio
daquele tempo. Ernest Hemingway se mostrava diferente de outros autores,
fascinados pelo glamour da “Era do Jazz” (entre eles Scott Fitzgerald, tema
para outro momento). Sua obra refletia seu espírito aventureiro e marcado pelas
rudezas da vida: a guerra, por exemplo, foi tema de alguns de seus livros.
Confesso que
não sou um grande fã de sua literatura, mas O
Velho e o Mar tem um lugar especial na minha lista de livros. Sabe aquele
livreto surrado, capa envelhecida e páginas amareladas que você carrega na
mochila? Assim é O Velho e o Mar,
singelo no formato e de uma narrativa simples como a vida.
O livro,
publicado em 1952, narra a história de Santiago, um velho pescador com fama de
azarado, que não fisgava um peixe sequer há 80 dias. Apesar de ter se tornado
motivo de chacota para outros pescadores, um menino, Manolin, tem grande
admiração por ele e o incentiva a continuar tentando. E é o que Santiago faz.
O pescador
lança-se no mar em busca da pescaria de sua vida. Em alto-mar, fisga um peixe-espada
gigante. E é esse episódio que vai dar o
tom da narrativa: a batalha de Santiago para trazer o peixe ao barco e não ser
levado pela força do animal. Cercado por água e longe de qualquer resquício de
terra-firme, o pescador só tem a companhia do peixe e desenvolve um
relacionamento intenso com ele, refletindo sobre tudo o que fez ao longo da
vida.
O Velho e o Mar é aquilo que chamamos de
fábula: uma história repleta de analogias sobre a relação do homem com a
natureza, a eterna luta pela sobrevivência, a perseverança, a sorte, o azar e
até, em alguns momentos, uma breve reflexão sobre a nossa existência. Hemingway
mostra no simples e árduo trabalho do
pescador que a vida é bem menos complicada do que pensamos, apesar das batalhas cotidianas. Para o velho
Santiago, no fundo, temos sorte, pois o que pescamos são peixes gigantes: em
determinado momento, o azarado pescador conclui que seria muito mais difícil (e
impossível) se os homens pescassem estrelas. Para Hemingway, o azar é uma
questão de opinião.
Davi Pereira
Acadêmico de Jornalismo