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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Papo Literário: O Velho e o Mar





Nas duas primeiras dicas literárias, apresentei a vocês obras de autores latino-americanos, revelando de certa forma minha preferência especial pela Literatura da América Latina. Contudo, considero interessante  explorar outras vertentes e períodos literários. Enquanto pensava sobre o tema da coluna, lembrei de um filme que assisti, Meia-Noite em Paris, do genial Woody Allen. Na trama, um escritor viaja até Paris com a futura esposa, e procura na cidade uma inspiração para o romance que está escrevendo. Como todo bom saudosista, era fascinado pela efervescência cultural da Paris dos anos de 1920.  Certa noite, enquanto passeava pelas tortuosas ruelas parisienses, é transportado de forma mágica para os anos 20, onde encontra seus artistas preferidos, entre eles, o autor que será assunto de hoje, Ernest Hemingway.
Hemingway é um dos escritores da chamada “geração perdida” da década de 20, grupo de artistas sem pátria definida que viveram experiências intensas em meio ao clima boêmio daquele tempo. Ernest Hemingway se mostrava diferente de outros autores, fascinados pelo glamour da “Era do Jazz” (entre eles Scott Fitzgerald, tema para outro momento). Sua obra refletia seu espírito aventureiro e marcado pelas rudezas da vida: a guerra, por exemplo, foi tema de alguns de seus livros.
Confesso que não sou um grande fã de sua literatura, mas O Velho e o Mar tem um lugar especial na minha lista de livros. Sabe aquele livreto surrado, capa envelhecida e páginas amareladas que você carrega na mochila? Assim é O Velho e o Mar, singelo no formato e de uma narrativa simples como a vida.
O livro, publicado em 1952, narra a história de Santiago, um velho pescador com fama de azarado, que não fisgava um peixe sequer há 80 dias. Apesar de ter se tornado motivo de chacota para outros pescadores, um menino, Manolin, tem grande admiração por ele e o incentiva a continuar tentando.  E é o que Santiago faz.
O pescador lança-se no mar em busca da pescaria de sua vida. Em alto-mar, fisga um peixe-espada  gigante. E é esse episódio que vai dar o tom da narrativa: a batalha de Santiago para trazer o peixe ao barco e não ser levado pela força do animal. Cercado por água e longe de qualquer resquício de terra-firme, o pescador só tem a companhia do peixe e desenvolve um relacionamento intenso com ele, refletindo sobre tudo o que fez ao longo da vida.
O Velho e o Mar é aquilo que chamamos de fábula: uma história repleta de analogias sobre a relação do homem com a natureza, a eterna luta pela sobrevivência, a perseverança, a sorte, o azar e até, em alguns momentos, uma breve reflexão sobre a nossa existência. Hemingway mostra  no simples e árduo trabalho do pescador que a vida é bem menos complicada do que pensamos, apesar  das batalhas cotidianas. Para o velho Santiago, no fundo, temos sorte, pois o que pescamos são peixes gigantes: em determinado momento, o azarado pescador conclui que seria muito mais difícil (e impossível) se os homens pescassem estrelas. Para Hemingway, o azar é uma questão de opinião.

Davi Pereira
Acadêmico de Jornalismo 
 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Futebol ao Sol e à Sombra: uma metáfora da vida



Futebol é o esporte mundial. Sim, não podemos negar que futebol é relevante em (quase) todas as partes do globo terrestre. Nos lugares mais remotos, encontramos crianças correndo atrás da bola: nas favelas brasileiras, em regiões áridas da África e até mesmo na zona de guerra na Faixa de Gaza.  Um esporte que há mais de 150 anos desperta fascínio e paixão inexplicáveis. O futebol nasceu para ser um esporte global, pois em campo jogadores de diferentes origens falam uma só linguagem: a linguagem da bola.
Mas no século XXI o jogo é o que menos importa no espetáculo futebolístico. Futebol virou sinônimo de negócios que movimentam bilhões no mundo todo. “A história do futebol é uma jornada que vai do prazer ao dever”, define o escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor do livro Futebol ao Sol e à Sombra. Escritor de clássicos da literatura latino-americana, como O Livro dos Abraços e o histórico-político As Veias Abertas da América Latina, Galeano resgata e reflete sobre o sentimento que envolve o futebol entre os povos.
A cada texto, Eduardo Galeano traz uma visão intimista sobre o mundo do esporte bretão: a figura do craque, a paixão do torcedor, os heróis e os vilões: cada pequena história é usada para revelar os inúmeros teatros dentro do “Grande Teatro”, que acontece nos limites do “retângulo da grama verde”. A principal característica de Galeano é o olhar social que impõe em suas obras. Em Futebol ao Sol e à Sombra não é diferente: por trás de grandes jogadores há um drama humano (o texto sobre Garrincha, por exemplo, é tocante), e ao redor de partidas históricas há um contexto social, político e econômico.
Futebol ao Sol e à Sombra não é uma leitura exclusiva para os aficionados por futebol. O livro oferece a todos uma oportunidade para refletir sobre os rumos da civilização ocidental. A história de cada Copa do Mundo serve de pano de fundo para revelar injustiças sociais, opressão e jogos políticos que não estão registrados na história oficial. Ao mesmo tempo, o contexto social é pano de fundo para apresentar uma visão humana e poética sobre as Copas.
O grande teatro do futebol é alimentado por uma paixão  que não precisa ser explicada, pois, já diria um grande filósofo (Kierkegaard), que sentimentos não precisam de porquês. Futebol ao Sol e à Sombra revela que o fascínio da humanidade pelo épico continua vivo e faz do futebol uma metáfora da vida.
Davi S. Pereira
Acadêmico de Jornalismo-Universidade de Cruz Alta