terça-feira, 13 de agosto de 2013

My Bloody Valentine e a cólera de um estilo hibernado por duas décadas

  Imagina uma banda talentosa, inovadora... mas tímida. Sim, tímida. A ponto de não conseguir encarar o público. A solução era baixar a cabeça e tocar olhando para os sapatos. Daí surgiu o termo Shoegaze e um dos mais incríveis espetáculos sonoros originados no final dos anos 80.

  Há divergências quanto à veracidade da história, mas o Shoegaze realmente existe e carrega características fortes: guitarras distorcidas, vocal etéreo (quase ausente) e barulho. Muito barulho. Audição difícil para quem não é familiarizado com nuances como o noise e o rock progressivo.

  Acredito que o principal expoente do gênero seja o My Bloody Valentine, grupo irlandês que experimentou bastante antes de lançar o genial Loveless, disco histórico. Os 46 minutos de loops e psicodelia se tornam um verdadeiro teste para os ouvidos. Desde 1991, o MBV não lançava inéditas, embora eles tenham passado por um hiato entre 1997 e 2007. Volta aos palcos, nova demora para novas produções: somente em janeiro de 2013 os rumores foram confirmados com o m b v, sucessor da relíquia Loveless. Alegria geral da nação shoegazer, que esperou 22 anos por este momento.

Loveless (1991)


m b v (2013)

 
   Outras bandas surgiram neste meio tempo com propostas semelhantes: Swirlies, Deerhunter, The Pains of Being Pure At Heart (que nomezinho, hein?!) são bons exemplos. Mas o flerte não chega perto dos moleques, hoje veteranos, que precisavam fixar os olhares nos pés para se sentir à vontade com os instrumentos.

 Abraço!
Lucas Padilha – Jornalista
@umtaldeLucas

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Papo Literário: O Velho e o Mar





Nas duas primeiras dicas literárias, apresentei a vocês obras de autores latino-americanos, revelando de certa forma minha preferência especial pela Literatura da América Latina. Contudo, considero interessante  explorar outras vertentes e períodos literários. Enquanto pensava sobre o tema da coluna, lembrei de um filme que assisti, Meia-Noite em Paris, do genial Woody Allen. Na trama, um escritor viaja até Paris com a futura esposa, e procura na cidade uma inspiração para o romance que está escrevendo. Como todo bom saudosista, era fascinado pela efervescência cultural da Paris dos anos de 1920.  Certa noite, enquanto passeava pelas tortuosas ruelas parisienses, é transportado de forma mágica para os anos 20, onde encontra seus artistas preferidos, entre eles, o autor que será assunto de hoje, Ernest Hemingway.
Hemingway é um dos escritores da chamada “geração perdida” da década de 20, grupo de artistas sem pátria definida que viveram experiências intensas em meio ao clima boêmio daquele tempo. Ernest Hemingway se mostrava diferente de outros autores, fascinados pelo glamour da “Era do Jazz” (entre eles Scott Fitzgerald, tema para outro momento). Sua obra refletia seu espírito aventureiro e marcado pelas rudezas da vida: a guerra, por exemplo, foi tema de alguns de seus livros.
Confesso que não sou um grande fã de sua literatura, mas O Velho e o Mar tem um lugar especial na minha lista de livros. Sabe aquele livreto surrado, capa envelhecida e páginas amareladas que você carrega na mochila? Assim é O Velho e o Mar, singelo no formato e de uma narrativa simples como a vida.
O livro, publicado em 1952, narra a história de Santiago, um velho pescador com fama de azarado, que não fisgava um peixe sequer há 80 dias. Apesar de ter se tornado motivo de chacota para outros pescadores, um menino, Manolin, tem grande admiração por ele e o incentiva a continuar tentando.  E é o que Santiago faz.
O pescador lança-se no mar em busca da pescaria de sua vida. Em alto-mar, fisga um peixe-espada  gigante. E é esse episódio que vai dar o tom da narrativa: a batalha de Santiago para trazer o peixe ao barco e não ser levado pela força do animal. Cercado por água e longe de qualquer resquício de terra-firme, o pescador só tem a companhia do peixe e desenvolve um relacionamento intenso com ele, refletindo sobre tudo o que fez ao longo da vida.
O Velho e o Mar é aquilo que chamamos de fábula: uma história repleta de analogias sobre a relação do homem com a natureza, a eterna luta pela sobrevivência, a perseverança, a sorte, o azar e até, em alguns momentos, uma breve reflexão sobre a nossa existência. Hemingway mostra  no simples e árduo trabalho do pescador que a vida é bem menos complicada do que pensamos, apesar  das batalhas cotidianas. Para o velho Santiago, no fundo, temos sorte, pois o que pescamos são peixes gigantes: em determinado momento, o azarado pescador conclui que seria muito mais difícil (e impossível) se os homens pescassem estrelas. Para Hemingway, o azar é uma questão de opinião.

Davi Pereira
Acadêmico de Jornalismo