quarta-feira, 6 de julho de 2011

Literatura e química

             Sempre gostei de literatura brasileira. Na idade escolar, li de O Escaravelho do Diabo até a trilogia O Tempo e o Vento, daquele escritor cruz-altense. Só nunca compreendi os parnasianos e simbolistas – ok, também não entendi o Grande Sertão: Veredas. Mas eu nunca quis escrever um livro sobre literatura brasileira, como quis o Frank Jorge num dos clássicos da Graforréia Xilarmônica, fundamental banda de rock gaúcha. O Frank Jorge queria colocar o primo dele na Academia Brasileira de Letras, “nem que seja mascando capim, nem que seja plantando bananeira”. Ainda hoje eu acho essa história muito divertida, embora nunca tenha imaginado a diretora trancada em sua sala, com um saco de pipoca, vendo Corrida Maluca, torcendo pelo Dick Vigarista. Raios duplos! Raios triplos!
Já de química, isso eu jamais gostei. Menos ainda quando tinha que entender sobre átomos e decifrar a tabela periódica para passar no vestibular. A única “Química” legal era a da Legião Urbana, última faixa do lado A do Que País é Este – sim, eu ouvia velhos vinis. Ouvia e cantava “Química” como quem bradava por liberdade, por independência. “Não saco nada de química, literatura e gramática. Só gosto de educação sexual. E eu odeio química, química, química”. Eu tinha 18 anos.
Cada uma a sua maneira, juvenília em ebulição, estas músicas da Graforréia – esqueça “Amigo punk” – e da Legião refletem picardias e inquietações que muitas vezes não se restringem à faixa etária. “Ter carro do ano, TV a cores, pagar imposto, ter pistolão, ter filho na escola, férias na Europa, conta bancária, comprar feijão”, como na letra do Renato Russo, são dilemas que podem te tirar o sono aos 18, aos 28, aos 38... Da mesma forma que ficar refestelado no sofá assistindo à Corrida Maluca não é privilégio de quem ainda não atingiu a puberdade. Até a diretora pode, se quiser. O que não dá é pra torcer pelo Dick Vigarista. Muttley, faça alguma coisa!