Quem tem o hábito de frequentar as locadoras, na
sessão de lançamentos, inevitavelmente se depara com vários títulos em 3D. Quem
já aderiu à tecnologia, que começou a ganhar destaque a partir do lançamento do
filme Avatar (2009), de James Cameron, encara com naturalidade e, dificilmente,
vai optar pela versão normal em blu-ray. Porém, para a maioria dos amantes da
sétima arte, os diferenciais da nova tecnologia ainda são desconhecidos.
Primeiramente, vamos entender um pouco mais como
tudo isso funciona. Depois, poderemos avaliar se já vale a pena investir uma
bela grana para apreciar as imagens em três dimensões.
Tudo começa com a compreensão da estrutura funcional
do nosso sistema de visão e as chamadas ilusões de ótica. Como diziam os
filósofos pré-socráticos: os nossos sentidos nos enganam. Essa “filosofia” vem
sendo bastante explorada pela indústria do entretenimento. Tudo graças à forma
como o nosso cérebro cria a noção de profundidade.
Para enxergarmos precisamos, inicialmente, de
uma fonte de luz – primária, se a fonte emite luz, ou secundária, se reflete.
Quando essa luz chega até nossos olhos, células fotossensíveis reagem gerando energia
elétrica que corre pelos nervos óticos até o córtex visual – parte do cérebro
responsável pela visão. Cada olho envia informações visuais para um hemisfério
do cérebro – olho direito para o hemisfério esquerdo, olho esquerdo para o
hemisfério direito. Observe a figura ao lado ou faça você mesmo o teste
alternando a visão entre um olho e outro e perceba que, obviamente, essas
informações visuais são um pouco diferentes: quanto mais perto um objeto está
de nós, maior será a diferença entre as imagens percebidas pelos nossos olhos.
Essa diferença entre as duas imagens é o que,
justamente, cria a percepção de profundidade entre os objetos à nossa frente. O
cérebro avalia o conjunto de informações de cada imagem e interpreta os vários
planos (distância entre o observador e os objetos existentes na imagem). O
resultado final é a visão tridimensional.
O desafio da indústria do cinema foi encontrar como
enviar para o cérebro em uma mesma projeção duas imagens diferentes. Como fazer
cada olho receber uma imagem diferente de uma superfície completamente plana
(tela do cinema, da TV).
O primeiro recurso, ainda utilizado em alguns
aparelhos, como notebooks e videogames, foi a criação de um óculos com filtros
coloridos nas lentes: um filtro vermelho, normalmente no olho esquerdo, e um
azul, normalmente no olho direito – esses óculos 3D são chamados de passivos. Para funcionar, a
imagem projetada deve ser formada por dois ângulos levemente diferentes, cada
um rigorosamente com um filtro da cor correspondente ao olho que deve atingir –
uma imagem em vermelho e a outra em azul, sobrepostas, como na imagem ao lado.
O maior problema dessa tecnologia, além do cansaço visual, é a distorção das
cores originais da imagem e também a perda da luminosidade das cenas.
As novas tecnologias 3D, que encontramos nas
locadoras e nos cinemas digitais, obedecem ao mesmo princípio do nosso sistema
visual, mas superam os problemas do velho padrão bicolor.
As imagens, que agora são captadas ao mesmo tempo por
duas lentes acopladas em uma câmera especial que seguem a distância natural
entre nossos dois olhos, não sofrem perda de qualidade. O uso dos óculos não se
prende mais aos filtros coloridos, mas sim a um recurso que sincroniza as
imagens projetadas na tela com a ação das lentes – que agora são ativas, pois
usam recursos que exigem energia. Os óculos, em um ciclo de 140 alternações por
segundo, obstruem – suas lentes funcionam como um obturador - a passagem da
imagem para o olho direito quando a imagem na tela deve atingir o olho esquerdo
e vice-versa. Isso acontece tão rapidamente que não percebemos essas piscadas,
mas sim imagens com cores perfeitas, luminosidades e contrastes impecáveis e em
alta definição.
Outra forma de transmitir imagens distintas para
ambos os olhos, e esse é um recurso atualmente mais utilizado no cinema, e a
geração de imagens com luzes de polaridades diferentes – uma horizontal e uma
vertical. O olho humano não percebe a diferença de polaridade. Por isso, não há
perda na qualidade da imagem. Novamente o papel dos óculos é filtrar, só que agora
a diferente polaridade das luzes da imagem. Assim, cada olho novamente receberá
uma imagem levemente diferente gerando a percepção de tridimensionalidade.
O que posso afirmar é que a sensação de
realismos em um filme em 3D é algo realmente incrível. A noção dos vários
planos, os objetos voando contra o espectador, a dinâmica da ação; tudo fica
mais vivo, mais real. Claro que em cinema, a trama sempre será o ponto central.
Mas, todo recurso que permite dar mais realismo ao que é visto na tela sempre será
muito bem-vindo para acentuar a emoção vivida em cada projeção.
Jeison Costa - Publicitário