Em meio à Eurocopa que está atraindo os olhares de todo o planeta para confrontos entre grandes estrelas do futebol do primeiro mundo, com estádios lotados e contratos publicitários milionários, vou falar sobre a Islândia. Uma ilha nórdica com cerca de 320 mil habitantes e com geografia predominada por montanhas, geleiras e vulcões. Apesar de pequeno (103 km²), é um país bem estruturado e com baixas taxas de desemprego, embora seja uma das nações mais afetadas pela crise econômica europeia.
No futebol, trata-se de um figurante: ocupa apenas a 131ª posição no Ranking da FIFA, atrás de Etiópia, Suriname e República Democrática do Congo, por exemplo. O principal representante da Islândia é o centroavante Gudjohnsen, que atuou por três temporadas pelo FC Barcelona. Entretanto na metade de 2010, os holofotes da imprensa esportiva apontaram para a terra da Björk. O Stjarnan Garðabær, clube que alterna entre as 1ª e 2ª divisões do campeonato nacional, começou a ganhar notoriedade não pelo desempenho dentro de campo, mas pelas comemorações inusitadas de gols. Coreografias inspiradas no Rambo e em uma pescaria foram as primeiras encenações a arrancar gargalhadas de quem assistia no YouTube e até mesmo em programas televisivos.
Até que eu resolvi entrar em ação.
Até que eu resolvi entrar em ação.
Na época, eu freqüentava a comunidade Futebol Alternativo Off Topics (FAOT) do Orkut, e lá esse tipo de notícia é um prato cheio. Um dos participantes mais fanáticos do fórum, o Reinaldo, foi atrás de mais detalhes e encontrou a súmula da partida que teve a comemoração da “pescaria humana”. Descobriu que o jogador que simulava ser um peixe fisgado era o lateral Jóhann Laxdal. Na sequência, vários integrantes começaram a imaginar novas comemorações. E, também naquela época, o hit bizarro que atingia números incríveis de acesso era o funk da “Bicicleta Humana”, do grupo Mulekes Piranha. No clipe, tosco e cheio de efeitos ultrapassados, o grupo faz uma série de acrobacias que termina em um formato de bicicleta. Não deu outra. O Leonardo, outro participante da FAOT, lembrou da pérola. Fui ao Facebook, encontrei o perfil do atleta e, sem pensar duas vezes, mandei o vídeo como sugestão para a próxima partida. Recebi um “Hehe legal, nós vamos tentar o nosso melhor” como resposta. Encarei aquilo como um “Ok, entraremos em contato se precisarmos de você”, como se houvesse criado falsas expectativas para um trainee que procura emprego em uma multinacional.
E não é que, para minha surpresa, a sugestão se concretizou? No confronto contra o KR Reykjavík em 06 de agosto, Árnason abriu o placar para o Stjarnan aos 13 minutos do 1º tempo. Um gol feio, estranho, digno de várzea. Mas foi um gol. O grupo de jogadores correu para o outro lado do campo, provavelmente para onde havia uma concentração maior de torcedores, e montaram a bicicleta humana! O Stjarnan perdeu para o time da capital por 3 a 1, mas a coreografia foi gravada e reproduzida em programas como o Esporte Espetacular, Tá na Área do SporTV, figurou o quadro “Top 5” do CQC da Band, fora os que eu não consegui assistir. E está eternizada em páginas online como Olé, The Sun, GloboEsporte.com, ESPN, Pop Esporte e Terra.
Eu já simpatizava com a Islândia devido às minhas influências musicais (Sigur Rós, Múm, Amiina, GusGus, entre outros) e a partir daquele momento passei a me considerar um cidadão honorário, além de começar a acompanhar melhor o futebol local. Afinal, foi uma experiência muito bacana ver vários repórteres entrando em contato para saber a origem da comemoração, como conheci o Jóhann, se eu tinha interesse em viajar para a Islândia. Confesso que, embora estudante de jornalismo na época, eu me senti celebridade por 15 minutos. Mas para a história do Stjarnan e dos Mulekes Piranha (que após o fato começaram a aparecer em vários programas de auditório), tenho certeza que contribuí.
Até a próxima!
Lucas Padilha - Jornalista